sábado, agosto 18, 2007

"A tua lembrança é um prazer que desliza. Chegas agradável como uma brisa quente ou uma boa notícia, e eu imagino-nos cenários: encontros fortuitos, casuais, um pequeno-almoço, um relance de carro, um telefonema, uma gargalhada, um encontro de pulsos, de tornozelos. Faço-o sem qualquer expectativa romântica ou intuito amistoso: és menos do que um amante e mais do que um amigo. Não que me sejas mais próximo ou íntimo, porque não o és, mas porque, mesmo longínquo, me exaltas e entreténs, ocupando o meu espírito movediço e centrando-o, como a perspectiva de ir de férias ou de casar amanhã.
Não me iludo, não é disso que se trata: apenas te construo em mim, uma e outra vez, como uma primeira dentada antecipando a gula, lenta e deliberada. O teu rosto enleva-me e inspira-me, soalheiro. Há momentos em que te conduzo para sítios bonitos de cartaz, como jardins secretos e praias desertas, e onde te vejo ao meu lado como se estivesses mesmo. Ali, entabulo conversas, contradigo-te e acotovelo-te, deixando que me faças cócegas e me olhes longamente, como os casais nas fotografias. E cheiras sempre bem.
Acima de tudo, enterneces-me."